domingo, 7 de março de 2010

It's the end of the world as we know it!


Uma noite de semana.

A rotina desenrolava-se com a devida normalidade.
Até que, por volta da uma hora da manhã, tudo muda.

Um estrondo, um carro a acelerar, uma luz anormal a entrar pela janela.

Tinham acabado de pegar fogo a um carro à porta de nossa casa.

A primeira reacção foi ligar para o 112 – que já sabia da ocorrência.

Seguiu-se a preocupação com os vizinhos e a consequente maçada de lhes tocar à campainha para que eles pudessem ir salvar os veículos deles antes que o fogo os alcançasse.

Entretanto chegam os bombeiros e a polícia e, com o à-vontade de quem passou pelo mesmo na noite anterior, procedem às devidas iniciativas, no sentido de minimizar estragos.
Estoiram os pneus. Parecem tiros.

Um dos carros do lado, cujo vizinho não ouviu o aparato das sirenes, já não tem hipótese e sucumbe ao fogo.

Em pouco tempo tudo fica controlado: os carros são quase todos salvos, outros sofrem danos ligeiros, o fogo é apagado.

Perante o olhar atento dos moradores, a situação é confinada.

Perante o olhar estarrecido dos moradores, nunca mais nada seria o mesmo.

As histórias que se ouvem resultam do susto e dos inúmeros episódios do CSI que todos vêem de quando em vez na televisão: vingança direccionada a alguém, tentativa de esconder alguma coisa, etc, etc, etc.

A verdade é que a Polícia descobriu que tanto este incidente como o anterior resultaram de roubos realizados noutra zona do País. Os resultados desses roubos vieram ser depositados na Maia e o fogo foi a metodologia escolhida para total destruição de eventuais vestígios.

O dia seguinte amanhece. O dono do carro que nada tinha a ver com a situação, mas que o fogo não poupou, sai para ir trabalhar. E quando chega perto do carro que o riria levar deste ponto C(asa) para o ponto T(rabalho), vê um negro e triste espectáculo de cinzas que se sobrepõem.

Já se passaram alguns dias mas os veículos calcinados continuam disponíveis para serem alvos de romaria e fotografias de quem viu a notícia e vem confirmar o que aconteceu.

Os comentários não fogem à regra do ‘dantesco’, ‘que horror’, ‘deve ter sido um susto’. Mas quem viveu in loco a fatídica noite sabe que essas palavras não chegam para descrever o sobressalto: o sossego interrompido, a necessidade de união para ajudar terceiros, a incerteza do combustível que o carro teria e que faria a diferença entre tudo ter acontecido como aconteceu ou ter havia explosões mais fortes … Enfim! Quem estava nesta nossa rua não consegue esquecer os barulhos, os cheiros e o espectáculo visual negro que testemunhou ao vivo e a cores.

Não creio que o sossego volte a esta vizinhança.
De cada vez que, à noite, se ouve um barulho mais incomum ou há um movimento anormal de carros, todos correm à janela.

Os carros deixaram de ser deixados na rua.

As portas e os portões de acesso aos edifícios estão sempre vigiados e fechados.

A segurança deixou de ser algo espectável e passou a ser um esforço conjunto.

Tudo porque algures, alguém decidiu violar a nossa paz.

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